terça-feira, outubro 17, 2017

Tristeza e preocupação. E esperança.


Burning Oil Well at Night, near Rouseville, Pennsylvania
James Hamilton   ca. 1861


Há tantas e tão cruzadas causas -- há tanto acaso misturado com maldade com causas naturais extremas.

Há uma tal improbabilidade potenciada por elementos incontroláveis, há uma tal dimensão num desastre que se multiplica e projecta -- que é impossível, com meios humanos dimensionados para o provável, conseguir deter a besta sobre-humana que, como uma hidra de mil cabeças jorrando fogo, devorou algumas zonas do país.

Quando foi de Pedrógão já o disse e mantenho a opinião. Anos de incultura de toda a espécie, anos de abandono de terras, anos de redução de custos públicos, anos de laxismo e de más políticas, excesso de divulgação mediática dos incêndios num registo apoteótico, porventura um sistema judicial que não intimida os criminosos, porventura muito mercantilismo em áreas que deveriam estar ao abrigo de apetites espúrios, porventura estruturas pouco adequadas a situações limites, etc, etc, etc - não se resolvem de um dia para o outro, não se resolvem com a demissão de uma ministra, não se resolvem com uma competição entre comentadores a ver quem se sai com a tirada mais bombástica, não se resolvem com rostos piedosos e frases incendiárias.

Não vou, pois, alinhar em nada disso.

O momento é de consternação, desgosto, apreensão. E é de esperança de que tamanha mortandade e tamanha devastação sirvam para se parar para pensar, para equacionar de forma inteligente e equilibrada, o muito que há para fazer.

Não é tempo de atender à pressão mediática ou tempo de refregas partidárias. É tempo de seriedade e de mostrar que se ama, de verdade, o País.

de Mark Rothko

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E está a chover.

Enquanto escrevo, ouço a chuva. Ao fim de tantos meses de secura, finalmente a bênção da chuva.

Que bom. 

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